Como Encontrar Seu Propósito de Vida: Um Guia Para Descobrir Sua Vocação e Definir Sua Obra

Tempo de leitura: 25 minutos

O homem, dotado de inteligência e vontade, age sempre em vista de um fim1, e por isso deseja encontrar para si um propósito de vida.

Entende que este propósito é necessário para sua realização. Não crê que possa ser feliz agindo ao acaso, mas somente trilhando um caminho que lhe é próprio.

Percebe-o também como princípio ordenador da vida: um propósito de vida orienta nossa conduta, direciona nossas energias, seleciona nossas idéias, determina, enfim, nossa maneira de viver.

O propósito de vida é uma luz e uma força que sustenta a luta diária, mas encontrá-lo é, para muitos, uma tarefa penosa que causa sofrimento e angústia.

Como encontrar, afinal, o nosso propósito?

Neste artigo irei compartilhar o que aprendi nos últimos anos ajudando pessoalmente dezenas de pessoas a encontrarem um propósito de vida. Desde 2013 esse tem sido o principal foco do meu trabalho como coach e educador.

Discutiremos o verdadeiro significado da expressão “propósito de vida”, as disposições morais e psicológicas que facilitam sua descoberta e os obstáculos que a impedem.

Após o estudo deste artigo você estará munido de idéias que certamente facilitarão o processo de busca e definição do seu propósito de vida.

O Maior Desafio na Busca por um Propósito de Vida

Quem deseja perseguir um propósito deve tolerar um estado inicial de dúvida, pois não tem a garantia de que persegue o propósito adequado e verdadeiro.

Caminhará ora numa trilha limpa e iluminada, que o faz crer que está no caminho certo; e ora num terreno acidentado que acha-se na penumbra e o faz pensar que está perdido.

Este estado de dúvida só pouco a pouco se dissipa e converte-se em certeza, pois “a dúvida só pode ser removida pela ação”.

Ninguém pode estar certo de ter descoberto seu propósito antes de começar a agir – e agir sem que um resultado favorável esteja garantido de antemão. Quem persegue um propósito faz uma aposta.

Exige-se do buscador do próprio caminho a , a esperança e a coragem de entregar-se àquilo que enxerga apenas numa semi-claridade.

Mas independente do propósito escolhido e da dúvida que se possa ter acerca desta escolha, deve-se saber que não há propósito que não seja capaz de preencher toda a nossa atividade.

Todo propósito é inesgotável. Conforme é perseguido, vai revelando novas luzes e possibilidades não percebidas anteriormente.

Todo propósito é também grande, pois a grandeza das ações humanas se mede pela inspiração que as faz nascer e pelo amor com que são praticadas. Assim, o propósito de vida mais modesto esconde grandezas que o trabalho disciplinado e perseverante pode fazer florescer e dar frutos saborosos.

Tolerando, portanto, o estado inicial de dúvida, quem procura um propósito pode esperar encontrar um tesouro pessoal capaz de motivá-lo a dar o melhor de si.

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Propósito, Vocação e Sentido da Vida

O propósito é a expressão da vocação, ele manifesta-a ao mundo.

O sentido da vida é a busca e conquista do fim último, que envolve e ultrapassa as vocações e propósitos particulares: é único para todos os homens e consiste no bem perfeito chamado comumente de felicidade.

A felicidade, portanto, é algo absoluto e auto-suficiente, estando claro que ela é a finalidade à qual se acham ordenadas todas as nossas ações. Aristóteles (384 a.C. — 322 a.C.)2

Servimo-nos, portanto, do propósito, como ligação entre o campo da atividade humana em que atuamos (vocação) e o desejo de gozar da felicidade (sentido da vida).

Assim, por exemplo, vocacionado à educação, escolho como propósito “ensinar a arte de realizar sonhos com ordem e paz” como meio para alcançar a felicidade.

Para encontrar nosso propósito devemos, portanto, saber onde procurá-lo. Qual a nossa vocação? Em que campo de atividade estamos inseridos ou desejamos inserir-nos?

Onde encontrar nossa vocação?

Nosso propósito de vida é determinado por nossa vocação. E não se deve acreditar que nossa vocação é longínqua e excepcional. Ela é sempre próxima e familiar, envolvida nas circunstâncias mais simples da nossa vida.

Todos os homens têm gênio, se forem capazes de descobrir seu próprio gênio. Mas o difícil está aí: quase sempre não fazemos outra coisa senão invejar outrem, imitá-lo e buscar ultrapassá-lo, em vez de explorar nosso próprio âmago. E não se pode esquecer que, toda vez que somos fiéis a nós mesmos, sentimos um ardor lúcido que ultrapassa todos os outros prazeres, retira-lhes todo o sabor e daí por diante os torna inúteis. Louis Lavelle (1883 — 1951)3

A descoberta da nossa vocação consiste, portanto, em saber discernir, entre todos os possíveis que existem em nós, o possível que devemos ser e que, de alguma forma, já somos.

Estamos vocacionados àquilo que fazemos com naturalidade e prazer. O prazer, afirma Santo Tomás de Aquino (1225 — 1274), é útil para classificar os homens e, por isso, útil também para discernir suas vocações.

O grande obstáculo à descoberta da vocação é, portanto, a ingratidão. Os homens desconfiam e são ingratos em relação aos próprios talentos, e por isso permanecem indecisos e estagnados.

Assediados pelo orgulho e por um desproporcional senso de importância pessoal, facilmente desejam o que já pertence a outro ou está fora de alcance. Isso os atrasa e entristece.

Nossa vocação é sempre familiar e deve ser discernida com simplicidade e sem voltas inúteis. Encontrando-a, devemos submeter-nos a ela. Feito isso, podemos começar a perguntar sobre o nosso propósito de vida com mais segurança.

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O Que é um Propósito de Vida?

Assim como a descoberta da vocação consiste em saber discernir, entre todos os possíveis que existem em mim, o possível que devo ser, a descoberta do nosso propósito consiste em escolher entre todas as obras que posso fazer, aquela que devo fazer.

Encontrar um propósito de vida é descobrir o ideal ou obra que melhor corresponde à nossa vocação e entregar-se inteiramente à sua realização.

A pergunta pelo propósito busca descobrir o que fazer com a nossa vida, ou seja, que direção dar-lhe e com quais atividades preencher seu tempo.

Esta pergunta também pode ser colocada de outras formas:

  • Onde e como vou exercer minha vocação?
  • Com o que vou me comprometer?
  • Qual será a minha obra?

O propósito de vida é um ideal, mas um ideal prático. É a obra que melhor responde ao anseio do nosso ser.

O que eu quero fazer, posso fazer, e que é, portanto, o que devo fazer?

A resposta à pergunta acima trará à luz o seu propósito de vida único e especial. Anote-a e medite sobre ela dia e noite.

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O Propósito Como Obra

Sabemos agora que o propósito de vida é uma obra a ser realizada.

Mas uma obra deve ser útil. Deve servir tanto àquele que a realiza quanto àqueles a quem se dirige. Deve ser, em virtude do benefício que oferece, um fruto de amor.

Você, leitor, que benefício pode oferecer aos homens e mulheres da sua comunidade, cidade, estado, país ou mesmo do mundo? Que benefício único você pode ofertar?

Todo homem carrega dentro de si uma idéia antiga e familiar que não deixa de pressioná-lo interiormente para ser exposta à luz do dia e realizar-se. Encontra-se aí uma indicação segura do nosso propósito de vida.

Não podemos esperar possuir outras riquezas além das que já trazemos em nós. Basta explorá-las, em vez de negligenciá-las. Mas elas são familiares demais para que nos pareçam preciosas, e corremos atrás de outros bens que brilham mais e cuja posse nos é recusada. Mesmo que pudéssemos alcançá-los, não deixariam em nossas mãos nada além de sua sombra. Louis Lavelle4

Se, por um lado, um propósito de vida é buscado e encontrado, por outro deve também ser assumido corajosamente.

É pequeno o número daqueles que reconhecem desde a infância ou juventude a obra que devem realizar. A maior parte dos homens precisará tolerar um incômodo estado inicial de dúvida que só pouco a pouco desaparecerá.

Em meus atendimentos como coach estive com muitos homens e mulheres que, apesar de carregarem dentro de si um propósito antigo que nunca perdeu seu vigor, ainda não haviam dado sequer um passo para realizá-lo: o medo e a insegurança os impediam de agir.

Ensino, nestes casos, uma valiosa lição: os mesmos obstáculos que bloqueiam o caminho para um propósito são também os que o obrigam a irromper e realizar-se.

Saiba mais: Programa Reboot: Descubra Seu Propósito e Construa a Vida dos Seus Sonhos

Como nasce uma obra?

Jules Payot (1859 — 1939), em A Educação da Vontade, nos fornece um resumo instrutivo de como são estabelecidos os propósitos de vida que culminam na realização de boas obras:

Veja como se criam as obras de arte: um pensamento, com frequência um pensamento da juventude, que nasceu viável, permanece a princípio tímido e obscuro no homem de gênio. Uma leitura, algum incidente da vida, uma expressão feliz dita de passagem por algum autor ocupado em outro assunto, ou que não está preparado para essa ordem de pensamentos, que percebe a idéia sem compreender sua fecundidade, dão a essa idéia incubada consciência do seu valor e de seu possível destino. A partir desse dia ela se alimentará de tudo. Viagens, conversações, leituras variadas lhe fornecem elementos assimiláveis, com os quais se alimentará e fortificará. É assim que Goethe carrega por trinta anos sua concepção de Fausto. Ela levou todo esse tempo a germinar, crescer, lançar suas raízes cada vez mais fundo, a extrair da experiência os sucos nutrientes de que foi feita essa obra de gênio.5

Nosso propósito é um pensamento que sobreviveu ao teste do tempo e não perdeu sua força nem seu poder de atratividade sobre nós.

Ele reaparece em nossa consciência regularmente, suscitado pelos mais diversos acontecimentos da vida, mesmo os mais banais. É, com frequência, “um pensamento da juventude que nasceu viável”.

Começaremos agora a explorar um conjunto de idéias capazes de aproximar você deste pensamento que é uma indicação segura do seu propósito de vida.

Como Encontrar Seu Propósito de Vida

Apresentaremos agora algumas idéias que devem nortear sua busca por um propósito de vida. Não apresentaremos um método, mas sim idéias sem as quais qualquer método fracassaria.

Tratam-se de princípios que devem estar sempre presentes e de atitudes que devem ser cultivadas. Juntos, eles formam um conjunto de disposições psicológicas e morais indispensáveis àquele que busca encontrar seu propósito.

É o desconhecimento destas disposições, mais do que os obstáculos que discutiremos adiante, que impede o avanço daqueles que buscam descobrir a obra que devem realizar.

Se a descoberta de um propósito de vida é, para você, uma necessidade existencial séria, então a compreensão destas idéias e a meditação frequente sobre elas são de fundamental importância.

1. Querer uma só coisa — e querer esta coisa apesar de tudo!

Ollé Laprune (1839 — 1898) nos oferece em seu Le Prix de la Vie (O Preço da Vida), dois princípios úteis àquele que busca encontrar seu propósito de vida:

O primeiro, é querer pouca coisa; o segundo, é querer este pouco apesar de tudo.

Modifiquemos um pouco estes princípios e digamos assim:

Querer uma só coisa — e querer esta coisa apesar de tudo!

O homem do século XXI é um ser fragmentário. Julga-se obrigado a tocar ao mesmo tempo uma grande quantidade de projetos. Comete, assim, o erro que é o principal inimigo daqueles que desejam encontrar seu propósito: a dispersão.

Somos fortes quando somos pessoas de uma idéia só; quando queremos uma única coisa e estamos certos de querê-la.

O primeiro princípio, portanto, é buscar descobrir um só propósito, isto é, uma só obra a realizar. Nesta única obra deve repousar nosso afeto e desejo, e toda a nossa vida deve gravitar em torno dela.

2. Fixar o evanescente

Há momentos na vida em que tudo em nossa volta parece dotado de sentido e significado; momentos em que sabemos onde estamos e para onde devemos nos dirigir.

Tudo encontra-se iluminado; e o caminho sob nossos pés parece-nos uma estrada larga de terreno firme. Temos a sensação de que não podemos mais nos perder.

Mas em seguida essa luz se apaga e o caminho se fecha. Voltamos à escuridão ou à semi-claridade de antes e todas as dúvidas voltam a assaltar-nos.

É necessário, então, que sejamos capazes de conservar na memória a lembrança daqueles momentos de plena claridade.

Eis a razão para fazer da escrita um poderoso aliado na busca por um propósito de vida. É ela quem nos permite fixar algo desta luz evanescente que nos ilumina para, em seguida, nos abandonar.

É preciso ser capaz de fazer reviver a imagem da estrada larga de terreno firme que víamos anteriormente. É preciso ser capaz de evocá-la sempre que necessário, o que pode ser feito com mais facilidade se conservamos dela uma descrição.

Todo propósito de vida deve ser fixado afim de ser consultado sempre que a escuridão cair sobre nós. Disto depende nossa força para continuar perseguindo-o.

É por essa necessidade de reavivamento que, em meus programas de coaching, a escrita é o mais importante instrumento de trabalho na busca por um propósito de vida.

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3. Tomar o caminho para encontrá-lo

Quem persegue um propósito faz uma aposta e não pode estar de antemão certo de que tomou a estrada correta: deve iniciar a viagem para confirmar sua rota.

A ambição de abarcar a totalidade da existência pelo pensamento e saber de antemão o que há adiante é uma ambição universal. Mas universal é também sua impossibilidade: não podemos saber antecipadamente o que o destino nos reserva.

Todas as precauções podem ser tomadas, todos os estudos podem ser feitos e todos os conselhos solicitados: só reconhecemos o caminho certo ao tomá-lo.

É que um propósito de vida não é uma idéia, uma abstração ou um discurso verbal que basta a si mesmo e já nos dá a certeza que desejamos sobre a obra que devemos realizar.

Quem busca um propósito não quer contemplar uma idéia, mas colocar as próprias mãos em algo que a encha de alegria e satisfação. A descoberta de um propósito de vida requer ação, experimentação e, em certos casos, tentativas estratégicas.

Um tremor e uma ansiedade percorrem o homem que aposta num propósito de vida cujas consequências não vê. Ele deve tolerar estes incômodos e vencê-los pela ação ordenada.

4. Decidir e decidir de novo

Se uma decisão foi tomada e sabemos agora que propósito perseguir, que não nos enganemos: essa decisão não é final.

A insegurança voltará a insinuar-se e a dúvida a assaltar-nos: uma série indefinida de novas decisões será necessária.

A cada nova decisão, porém, poderá crescer em nós a certeza do propósito escolhido. Para isso, basta-nos reafirmar a mesma decisão.

Mas esta reafirmação não consiste necessariamente em repetir sem modificações nossa primeira decisão. Por vezes uma nova decisão modifica o propósito anterior como resultado do conhecimento mais perfeito que agora temos dele.

Trata-se, portanto, de uma nova decisão que é fiel à essência do propósito escolhido, não aos seus aspectos secundários ou acidentais, que devem ser modificados para responder mais adequadamente às circunstâncias reais nas quais nos encontramos.

Um propósito de vida sólido e maduro ainda comporta mudanças, desde que estas mudanças tenham caráter de adequação e preservem sua essência.

5. Ser fiel e dirigir-se aos obstáculos

Se podemos ceder diante da necessidade de fazer modificações em nosso propósito para adequá-lo às circunstâncias reais em que vivemos, não podemos dizer o mesmo quanto aos obstáculos.

Não podemos ceder diante deles. Aquele que modifica radicalmente a essência do seu propósito por causa de um obstáculo, corrompe sua integridade.

Aos obstáculos não se deve ceder, pois se ele surge diante de nós como pedra de tropeço, surge também, ao mesmo tempo, como o próprio meio que permite ao nosso propósito realizar-se.

O obstáculo é o caminho. Marco Aurélio (121 d.C. — 180 d.C.)

A tensão existente entre o propósito que desejamos perseguir e os obstáculos que dificultam essa busca nos aponta o caminho que devemos tomar.

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Obstáculos à Descoberta do Propósito de Vida

Depois das disposições necessárias, vejamos os principais obstáculos enfrentados no processo de busca e definição de um propósito de vida.

Os obstáculos, como já vimos, possuem esta importante ambivalência:

Os mesmos obstáculos que bloqueiam o caminho para um propósito são também os que o obrigam a irromper e realizar-se.

Eles podem, no entanto, surgir diante de nós como dificuldades que parecem invencíveis e fazer-nos desacreditar da possibilidade de uma busca bem-sucedida. Podem também fazer-nos desistir de um propósito verdadeiro que já está sendo perseguido.

Para não sermos enganados, precisamos ser capazes de reconhecê-los e interpretá-los corretamente.

Assim como com as disposições, os obstáculos mais comuns na busca por um propósito de vida são também de ordem psicológica e moral. A vitória sobre cada um deles dá-se pelo exercício da humildade, da simplicidade e da fidelidade a nós mesmos.

1. A imitação

Na busca por um propósito de vida, os obstáculos mais traiçoeiros são causados por nossa própria desordem interior. Emergem deste mundo dos afetos cujo domínio nos escapa e cujo funcionamento parece-nos misterioso.

É comum que o homem que busca o seu próprio caminho perceba-se, se estiver atento, imitando outrem, em vez de explorar seu próprio âmago.

Mas a imitação não pode levá-lo ao seu verdadeiro propósito. O propósito imitado é uma caricatura. É incapaz de conferir ao indivíduo a luz própria e original que deseja e da qual precisa para realizar-se.

Não se deve imitar, mas assimilar, absorver daquele que admiramos apenas os elementos que nos convêm e são semelhantes a nós mesmos – e, ainda assim, absorvê-los não como aparecem no outro, mas modificados e adaptados.

Exige-se, portanto, para vencer a tentação de imitar, a prática da virtude da magnanimidade ou grandeza de alma. Segundo Aristóteles, o homem magnânimo “é incapaz de fazer com que sua vida gire em torno de um outro” e “não ambiciona as coisas que são vulgarmente acatadas, nem aquelas em que outros já ocupam a primeira posição”.6

O magnânimo, portanto, procura seu próprio lugar e conquista seu espaço por merecimento. Não imita, nem busca favorecimentos.

2. A inveja

Há também aqueles que ocupam-se em invejar. Parecem acreditar que o propósito que buscam já foi encontrado e possuído por outro, não estando mais à disposição.

O que lhes resta então, senão desejar que o outro o perca para que ele o obtenha?

Mas essa crença é um erro grosseiro. Seu propósito de vida permanece disponível e não pode ser usurpado. O lugar que lhe é próprio não pode ser ocupado por outro.

Se não formos o que devemos ser, ninguém o será. Nosso lugar ficará vazio, uma peça no quebra-cabeça das obras da humanidade ficará faltando — e para sempre.

Em vez de imitação, assimilação inteligente, e em vez de inveja, admiração amorosa. “Diante da superioridade de outrem”, nos diz A.D. Sertillanges (1863 — 1948), “só resta uma atitude honrosa: amá-la”.7

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3. A ilusão do extraordinário

Grande obstáculo à descoberta de um propósito de vida é um olhar voltado sempre ao extraordinário e excepcional.

Nosso propósito decorre de nossa vocação, e esta é sempre próxima e familiar. Não convém, portanto, buscar nosso propósito numa atividade extravagante que encontra-se fora de alcance, mas descobri-lo no lugar mesmo onde estamos.

Etienne Lamy (1845 — 1919) disse um dia:

Nosso grande mal é o número de pessoas que se acreditam feitos unicamente para deveres extraordinários. […] Nosso país está repleto de pessoas que não querem matar senão o leão; eles o procuram por toda a sua vida, e quando morrem a carabina contém ainda a primeira bala. Colocam a esperança em eventos fora do seu poder e desdenham os resultados prometidos ao esforço cotidiano.8

Não devemos ser, portanto, “o homem que espera o leão”. Não devemos esperar nada, pois tudo o que precisamos já se encontra em nós ou ao nosso alcance.

Não podemos esperar possuir outras riquezas além das que já trazemos em nós. Basta explorá-las, em vez de negligenciá-las. Louis Lavelle9

Não queremos, porém, dizer que aquilo que se encontra fora de alcance não deva participar do nosso propósito de vida. Um sonho encontra-se, por definição, distante, mas o primeiro passo que nos leva até ele deve estar, já agora, ao nosso alcance.

Assim, por exemplo, quem sonha em viajar e conhecer outras culturas pode não possuir agora os recursos financeiros necessários, mas é certo que pode, desde já, iniciar por conta própria os estudos da língua inglesa, idioma cujo domínio é fundamental para realizar este sonho.

Trabalhar com o que somos, usar o que temos, começar onde estamos — seja este o teu lema ao buscar um propósito de vida!

4. O propósito de conveniência

É sempre grande a tentação de escolher um caminho de vida que preencha não nossas verdadeiras aspirações, mas nosso desejo de vantagens.

Mas não se pode fazer essa opção sem corromper algo de nossa integridade.

O ideal seria que vantagem e integridade pudessem estar unidos no propósito de vida escolhido.

“Gênio”, diz Ortega y Gasset (1883 — 1955), “é aquele que inventa a sua própria profissão”. “Gênio”, completamos, “é aquele que consegue, sem corromper sua integridade, conciliar a conveniência com a verdade”.

Na vida, quem desempenha o seu próprio papel, aquele que não pode ser desempenhado por nenhum outro, é mais forte e mais feliz.

A sabedoria não nos permite trair o papel que nos cabe trocando-o por vantagens – dinheiro, cargos, reconhecimento, etc. –, mas permite-nos encontrar meios criativos de obter vantagens honestas desempenhando nosso papel.

Felizmente, para nós, homens do século XXI, os meios para alcançar essa feliz conciliação são muitos – resta-nos descobrir nosso próprio meio de alcançá-la.

O meio que encontrei, se o leitor me permite usar-me como exemplo, foi fundir, num método educacional próprio, a arte do coaching com os princípios da educação clássica grega e latina e a filosofia aristotélico-tomista.

5. O medo de abdicar

Obstáculo ao “querer uma só coisa” é o medo de abdicar. Escolher é descartar, e a mais firme decisão é, ao mesmo tempo, um perfeito ato de desapego.

Podemos, sem dúvida, trilhar muitos caminhos, pois somos dotados de capacidades que nos fazem aptos para muitas coisas. Mesmo no campo da nossa vocação, os propósitos e obras que podemos perseguir e realizar são muitos.

Mas o coração não pode ser movido com perfeição para fins diversos e os nossos recursos — o tempo, a saúde, a energia, o dinheiro — são limitados. Um propósito de vida, para ser perseguido com perfeição, deve, portanto, ser um só.

Entre todas as nossas capacidades encontra-se a capacidade de autodeterminação, que permite-nos abdicar dos vários propósitos possíveis para perseguir aquele capaz de responder melhor aos nossos anseios mais íntimos.

É útil relembrarmos aqui a pergunta que deve guiar nossa busca:

O que eu quero fazer, posso fazer, e que é, portanto, o que devo fazer?

Nosso propósito de vida é único e a obra que faremos também, mas o mesmo vale para os outros. Deixemos, portanto, que cada um faça o que lhe cabe fazer. Faríamos mal aquilo que um outro fará bem.

Conclusão: Você Precisa Descobrir Seu Propósito de Vida

Cada pessoa tem um propósito de vida único e deve aplicar-se a ele com amor e coragem, dando o melhor de si para realizá-lo.

O propósito é a expressão da vocação, e esta é sempre próxima e familiar. Cumpre-nos aceitar com alegria os talentos que temos e não tentar dissimulá-los ou substituí-los. Em vez disso, devemos explorá-los com toda a força do nosso empenho e fazê-los dar seu melhor fruto.

Quais são as tuas forças? Que esforço podes empreender? Quais sacrifícios podes suportar? A quem podes servir com o teu propósito e beneficiar com a tua obra?

Principalmente, o que queres, de verdade, levar adiante? Pois se não queres ou queres debilmente é inútil começar. Julga tudo isso com verdade, humildade e confiança.

Conhece-te a ti mesmo e definirás, assim, um propósito adequado. Tua felicidade e realização pessoal dependem da descoberta do teu propósito de vida.

Se precisar, conte com a minha ajuda para descobrir seu propósito e construir a vida dos seus sonhos. Desejo o melhor para sua vida.

Coaching com André Valongueiro – Aprenda a Desenvolver Sistemas e Processos de Trabalho

Notas de rodapé

  1. Os atos propriamente humanos procedem sempre da vontade deliberada, isto é, da vontade esclarecida pela inteligência. A vontade é uma potência cujo objeto é o fim, e por isso um ato voluntário é sempre realizado tendo em vista um objetivo. Santo Tomás de Aquino esclarece essa necessidade de um fim para todas as ações humanas em Suma Teológica, I-II, q. 1, a. 1.
  2. Aristóteles, Ética a Nicô­maco, 1097 b 20.
  3. Louis Lavelle, A Consciência de Si, 2014, p. 118.
  4. Louis Lavelle, A Consciência de Si, 2011, p. 65-66.
  5. Jules Payot, A Educação da Vontade, 1ª edição, p. 35.
  6. Aristóteles trata da virtude da magnanimidade na Ética a Nicômaco, Livro IV, Capítulo 3.
  7. A.D. Sertillanges, A Vida Intelectual, 2014, p. 15.
  8. Louis Riboulet, Conselhos Sobre o Trabalho Intelectual, 2019, p. 81.
  9. Louis Lavelle, A Consciência de Si, 2014, p. 65-66.