Esqueça o Foco nas Metas: Desenvolva Sistemas e Processos

Tempo de leitura: 15 minutos

A cultura da definição de metas é popular e amplamente aceita como o melhor método para alcançar o sucesso.

O senso comum nos diz que, se queremos obter conquistas na vida, devemos definir metas específicas com ações bem definidas.

E esse método, dizem-nos, é válido para todas as conquistas mais comuns desejadas: criar um negócio, emagrecer ou melhorar nossa condição física, conseguir um bom emprego, aprender um novo idioma, etc.

A origem desta crença está na Revolução Industrial, que teve início no final do século XVIII e proporcionou o aumento significativo da produção de bens de consumo.

A mentalidade industrial de produção em massa, focada em metas baseadas em produtividade, penetrou fundo na cultura global e na vida particular de seus indivíduos.

Hoje, neste século XXI, continuamos vivendo e trabalhando orientados ao atingimento de metas. Todos os nossos projetos seguem, de uma forma ou de outra, essa lógica e mentalidade.

Talvez seja hora de você considerar outra estratégia para alcançar seus objetivos.

Uma Alternativa ao Modelo de Metas

Durante muito tempo, foi assim que eu abordei cada um dos meus projetos e sonhos.

Cada um deles era convertido em uma meta, geralmente formulada segundo a metodologia SMART1.

Eu definia metas para a lucratividade do meu negócio, para os meus treinos e resultados como triatleta e para o número de páginas a serem lidas por dia nos meus estudos.

Tive sucessos com este método, mas também muitos fracassos.

Não me queixo dos fracassos, eles fazem parte do jogo. O maior inconveniência deles é que costumam ser lembrados por nós com mais facilidade do que os sucessos. Deixam em nós marcas mais profundas.

A lembrança dos nossos fracassos e humilhações surge regularmente em nossa mente, enquanto a lembrança dos sucessos não costuma surgir de modo tão natural.

Convém, então, aprendermos a fracassar menos ou a tornarmos nossos fracassos menos significativos, minimizando o dano que causam em nossa motivação e confiança.

A forma de fazer isso é diminuir o uso das metas em nossos projetos e substituí-las por uma abordagem que privilegie a melhoria contínua em vez dos resultados específicos.

Metas versus Sistemas

Com o acúmulo dos anos de experiência, comecei a perceber que os meus bons resultados tinham pouca relação com as metas que eu havia definido.

Um exame cuidadoso me mostrou que aqueles sucessos aconteceram graças ao sistema de trabalho que eu havia estabelecido e à dedicação que tive ao processo definido.

Percebi, então, a existência de uma complementaridade entre metas e sistemas. Vejamos a diferença entre os dois métodos:

  • Uma meta estabelece o resultado específico que desejamos obter no futuro.
  • Um sistema diz respeito aos processos de trabalho a serem usados para atingir este resultado.

A meta olha para o futuro, mantém seus olhos na linha de chegada, na “glória da vitória final”.

O sistema ocupa-se com o que devemos fazer agora, neste momento, e esquece-se temporariamente do resultado final, embora possa continuar almejando-o.

As Metas e os Sistemas na Prática

Vejamos alguns exemplos da aplicação dos conceitos de meta e sistema em algumas atividades.

Um coach, mentor ou instrutor:

  • Meta. Conquistar 5 novos clientes ou alunos por mês.
  • Sistema. Processos de trabalho para produzir bons conteúdos regularmente, desenvolver novos programas de treinamento e atender clientes e alunos de forma excelente.

Um músico – digamos, um pianista:

  • Meta. Aprender a Suíte Inglesa #2, de Johann Sebastian Bach, em 45 dias e executá-la com fluidez e precisão.
  • Sistema. Definições sobre o tempo mínimo de prática diária, o método usado para isolar e praticar separadamente trechos difíceis de uma música e a divisão dos estudos em harmonia, teoria e técnica.

Um empreendedor – digamos, o dono de uma padaria:

  • Meta. Alcançar um faturamento de 50.000 mil reais por mês.
  • Sistema. Os vários processos definidos para testar novas idéias de produtos, contratar novos colaboradores, melhorar o atendimento aos clientes e planejar campanhas de marketing.

Os exemplos acima demonstram de forma clara a diferença entre as duas abordagens que estamos discutindo.

As metas preocupam-se exclusivamente com o que desejamos realizar, enquanto os sistemas focam em como faremos isso.

O que aconteceria se…

O que aconteceria se mudássemos o nosso foco das metas para o desenvolvimento de sistemas de trabalho que fossem continuamente refinados?

Será que teríamos sucesso com essa nova abordagem?

Se o treinador de uma equipe esportiva deixasse de lado a meta de vencer um campeonato para dedicar-se exclusivamente ao aprimoramento do sistema de treinos de sua equipe, o que aconteceria?

O treinador e sua equipe teriam bons resultados com essa mudança de foco?

Eu acredito que sim. E minha experiência pessoal mostra que essa mudança de abordagem tornaria todo o trabalho mais prazeroso e muito menos estressante.

Mudando o Foco da Meta Para o Sistema

A idéia de trabalhar tendo sempre em vista um resultado final específico pode ser – e geralmente é – fonte de muita ansiedade.

A melhor maneira de conquistar bons resultados em qualquer área é aprimorar-se continuamente e tornar-se um pouco melhor todos os dias.

O foco exclusivo nas metas impede – ou, no mínimo, dificulta – o foco melhoria contínua, pois “o coração não pode ser movido com perfeição para coisas diversas”.

Quando o foco é a conquista de um resultado específico – geralmente representado por um número –, deixa-se de dar a atenção devida ao sistema que conduzirá ao resultado.

Se você deseja resultados melhores, então é hora de operar uma mudança de foco, deixando de lado as metas e começando a focar no desenvolvimento de um sistema de trabalho.

Então as metas são inúteis?

Não. Sua função é apenas mais modesta do que geralmente se acredita.

As metas são úteis para apontar uma direção clara, mas o foco exclusivo nelas nos torna “cegos” para a importância do desenvolvimento de sistemas focados na melhoria contínua.

Muitos dos meus clientes relatam que o foco exclusivo nas metas tem lhes causado muita ansiedade.

Com efeito, muitos problemas surgem quando dedicamos a maior parte do nosso tempo pensando em resultados finais e agindo exclusivamente em função deles.

Se queremos fazer progresso de maneira saudável e sustentável a melhor opção é projetar sistemas de trabalho que possibilitem isso.

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Os 4 Problemas de Uma Mentalidade Orientada a Metas

Para chamar ainda mais a sua atenção para a necessidade desta mudança de foco, vamos explorar alguns problemas relacionados ao foco nas metas.

Os quatro problemas abaixo estão relatados no primeiro capítulo do livro Atomic Habits, do escritor americano James Clear, com algumas observações minhas.

Eles devem servir para convencer você a mudar de um estilo de vida e trabalho orientado a metas para um orientado a sistemas e processos.

Estou convencido de que esta mudança é salutar em todos os sentidos.

Diminuir a importância das metas e focar no desenvolvimento de sistemas nos fará menos ansiosos, mais felizes e mais preparados para obter o sucesso a longo prazo.

Problema 1: Todos possuem as mesmas metas…

Nossa mentalidade orientada a metas nos causa um grosseiro erro de percepção.

Olhamos para os vitoriosos – aqueles que alcançaram uma grande meta – e acreditamos que o estabelecimento de metas ambiciosas foi a causa desta vitória.

Mas e quanto as pessoas que estabeleceram metas semelhantes e não as puderam cumprir? Nós as negligenciamos como se não existissem.

Todo atleta deseja ser o campeão e todo empreendedor deseja ser o líder no seu mercado.

Todos possuem a mesma meta: vencer – seja no esporte, nos negócios ou em qualquer outra área.

Mas se todos, vencedores e perdedores, possuem exatamente a mesma meta, então a meta estabelecida não pode ser a causa da vitória ou derrota.

O que faz com que alguns vençam não é meta estabelecida, mas o sistema de trabalho focado em pequenas melhorias contínuas.

Quanto mais bem projetado for este sistema, maiores as chances de conquista de uma meta. O resultado final é uma consequência do cuidado em projetar e seguir bons processos de trabalho.

… mas nem todos podem vencer

Há ainda outra realidade que precisa ser lembrada: nem todos podem vencer.

Se a meta final consiste na conquista de certos bens materiais – a riqueza, a liderança de um mercado, a melhor casa, etc. –, então só pouquíssimos podem vencer.

Santo Agostinho (354 — 430) nos faz entender esta verdade com palavras simples:

[…] os bens materiais, ao contrário dos bens espirituais, não podem ao mesmo tempo pertencer integralmente a muitos.

A mesma quantidade de dinheiro pode ser dividida entre duas pessoas, mas não possuída integralmente por ambas.

Daí surge o conflito de interesses que, no longo prazo, causará imensos danos psicológicos e espirituais aos envolvidos nesta batalha.

O mesmo não ocorre com os bens espirituais, que podem pertencer simultânea e integralmente a todos e a cada um, sem que ninguém perturbe a própria paz e a de outrem.

O conhecimento presente neste artigo está sendo transmitido de mim para você sem que eu perca nada dele. Ao término da leitura, eu e você teremos esse conhecimento integralmente.

Podemos até dizer que a posse deste conhecimento será tanto perfeita quanto mais nós o compartilharmos com outros.

Nisto consiste a superioridade dos bens espirituais sobre os bens materiais.

É mais fácil ser feliz buscando bens espirituais do que bens materiais, mas esse é assunto para outro artigo.

Problema 2: Atingir uma meta é uma mudança momentânea

Imagine uma meta simples: fazer uma faxina no seu quarto. Você busca a motivação necessária para a limpeza e realiza a faxina. Meta atingida.

Mas se os mesmos hábitos que criaram a bagunça persistirem, seu quarto logo estará desorganizado novamente.

E logo você estará buscando, mais uma vez, a motivação necessária para o trabalho de limpeza. E esse ciclo continuará se repetindo…

Você permanecerá nele porque não mudou o sistema de hábitos e práticas que está criando a desordem no seu quarto.

Você está atacando o sintoma – o sinal visível da desorganização – sem tocar na causa do problema.

Atingir uma meta é uma conquista momentânea. Muda nossa vida por pouco tempo.

A maioria de nós acredita que precisamos mudar nossos resultados, mas não é nos resultados que encontra-se a raiz do problema.

O que precisamos é mudar o conjunto das práticas e hábitos que geram estes resultados: precisamos mudar nosso sistema de trabalho.

Isso é o que há de contraintuitivo no processo de melhoria e mudança: quando “resolvemos” um problema apenas modificando seu resultado final, isso será temporário.

Se queremos resolvê-lo em definitivo, devemos trabalhar no desenvolvimento de sistemas e métodos de trabalho.

Problema 3: Metas são limitadoras da nossa felicidade

A suposição implícita no estabelecimento de qualquer meta é a seguinte: “Serei feliz quando atingir minha meta”.

Mas agindo assim estamos constantemente adiando nossa felicidade. Ela se torna algo a ser gozado no futuro – e, dependendo da meta a ser atingida, num futuro distante.

Além disso, encontra-se nesta suposição a idéia de um “tudo ou nada”: seremos plenamente felizes se alcançarmos a meta; e miseráveis se não a alcançarmos.

É difícil ser feliz assim. O estreitamento da noção de felicidade – uma noção, por natureza, abrangente – torna a vida tensa e conflituosa.

Qual o sentido de restringirmos a possibilidade de sermos felizes à algo tão rígido quanto uma meta? Há muitos caminhos para a felicidade, não apenas um.

O foco no desenvolvimento de sistemas e processos desbloqueia nosso caminho para a vida feliz.

Esta mudança da meta para o sistema – ou do resultado para a jornada – nos oferece a chance de sermos felizes hoje.

Se temos um sistema de trabalho que está funcionando bem e nos fazendo progredir é quase inevitável nos sentirmos alegres e satisfeitos.

E esse sistema, diferente do modelo baseado em metas, pode assumir as mais diferentes formas.

Eudaimonia, a felicidade aristotélica

Aristóteles (384 a.C. — 322 a.C.) jamais se deixou enganar pela idéia de que a felicidade encontra-se atrelada ao atingimento de metas.

Para ele, a felicidade – eudaimonia, em grego – consistia num tipo específico de atividade: o exercício das virtudes. Não apenas o conhecimento das virtudes, mas a prática delas.

Na Ética a Nicômaco2, ele argumenta que, sendo a razão a função própria e distintiva do homem, sua felicidade consiste em exercer ativamente sua racionalidade.

Segundo Aristóteles, o homem mais feliz seria, então, aquele capaz de pensar e agir habitualmente de forma mais excelente e virtuosa.

Aristóteles não falou em “sistemas” ou “processos”, mas sua filosofia moral parece, de alguma forma, estar em sintonia com essas idéias modernas.

Problema 4: Metas não combinam com desenvolvimento a longo prazo

Metas tendem a criar uma espécie de “efeito ioiô”. O exemplo da faxina no quarto nos mostra isso.

Ao reunir a motivação necessária e concluir a limpeza, o mais provável é que retornemos ao nosso estado de relaxamento anterior.

Quando todo o nosso trabalho está orientado a uma realização específica e esta realização acontece, sentimos que não há mais nada a fazer e que “vencemos o jogo”.

Mas um jogo avulso não representa o “jogo da vida”, e depois da vitória numa partida, outras partidas virão. Não paramos de jogar até morrermos.

Construir sistemas é a melhor maneira de jogar bem o jogo da vida. Não se trata de obter uma única conquista ou conquistas isoladas, mas de continuar treinando para jogar cada vez melhor.

O jogo de longo prazo da vida exige de nós um modo de operação que não espera por uma linha de chegada.

É o nosso compromisso com este processo sem fim que definirá nosso sucesso ou fracasso.

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Um Sistema de Processos e Construção de Hábitos

Se você está enfrentando dificuldades para levar projetos adiante ou modificar hábitos saiba que o problema encontra-se na falta de um sistema, não na falta de metas.

Velhas práticas e hábitos retornam porque relaxamos depois de atingirmos uma meta que supostamente resolveria o problema de uma vez por todas.

Você precisa de um sistema para mudar, um conjunto de processos cuidadosamente elaborados para suas necessidades pessoais.

Este é o foco do meu trabalho como coach e educador: construir para os meus clientes sistemas de mudança que os permitam desenvolver bons hábitos e crescer simultaneamente em todas as áreas da vida.

Se você deseja a minha ajuda para isso, conheça mais detalhes do meu trabalho como coach. Em poucas semanas sua vida estará caminhando numa direção completamente diferente.

Conclusão: Desenvolva Sistemas e Processos

Metas são úteis para definir nossa direção e planejar nossos passos mais gerais, mas sistemas são mais adequados para nos fazer progredir no caminho escolhido.

Um sistema de processos bem projetado é a mais efetiva ferramenta que temos para atingir metas e realizar sonhos.

Sem ele será difícil executar nossos projetos mais ambiciosos e importantes.

Não seria essa a hora de mudar o seu foco e passar de uma mentalidade orientada a metas para uma orientada a sistemas e processos?

Ter um bom sistema é o mais importante. Ele o fará comprometer-se com o processo – e é deste comprometimento que virá o seu sucesso.

Conte com a minha ajuda para colocar você no caminho certo.

Coaching com André Valongueiro – Aprenda a Desenvolver Sistemas e Processos de Trabalho

Notas de rodapé

  1. A metodologia SMART para definição de metas nos ensina que uma boa meta deve possuir 5 atributos: S (Específico), M (Mensurável), A (Atingível), R (Relevante) e T (Temporal). Foi desenvolvida por Peter Drucker (1909 — 2005), escritor e professor austríaco considerado por muitos como “o pai da administração moderna”.
  2. Um livro fascinante, capaz de modificar profundamente nossa concepção do que seria uma boa vida. Recomendo a tradução de Edson Bini, lançada pela editora Edipro e repleta de notas de rodapé muito úteis.